quarta-feira, 7 de dezembro de 2011


Saiba o que é a fobia financeira

Não abrir faturas de cartão de crédito e evitar de falar sobre dinheiro são comportamentos de quem sofre deste mal O agente de viagens Eduardo Damasco, de 25 anos, não pode nem pensar em seu cartão de crédito que seu coração começa a acelerar. “Chego a transpirar de pânico,” afirma. Para não ter que encarar seus gastos de frente, ele prefere não abrir a fatura que chega pelo correio. “Tenho medo de olhar,” diz.

Apesar de parecer estranho, o comportamento de Eduardo também pode ser observado em nada menos do que 18% dos homens do mundo. Eles sofrem da chamada fobia financeira, termo criado em 2003 por pesquisadores da Universidade de Cambridge para caracterizar pessoas que tem aversão a lidar com questões financeiras.

Entre as mulheres, o percentual é um pouco maior, de 23%, segundo os pesquisadores. Izabel Toro, assistente social de 33 anos, é uma delas. “Eu não gosto de falar sobre meus gastos, nunca tiro extrato do banco e não abro fatura de cartão de crédito,” afirma. Embora não tenha dívidas, ela diz que fica nervosa só de pensar que pode estar gastando mais do que tem.

A fobia financeira, que atinge Eduardo e Izabel, não é uma doença, diz Aquiles Mosca, superintendente de Investimentos do Santander e especialista em finanças comportamentais. “É um termo usado por uma corrente de estudo que começou na Universidade de Cambridge e que busca encontrar a razão pela qual as pessoas têm uma relação difícil com suas finanças pessoais“.

Segundo o pesquisador Brendan Burchell, um dos criadores do termo fobia financeira e autor do estudo “Identificar, descrever e compreender a aversão financeira: fobia financeira”, é possível perceber algumas causas do problema. “Há pelo menos três teorias que explicam este comportamento: procrastinação, frustração e falta de confiança,” afirmou em entrevista exclusiva concedida ao iG.

A procrastinação, ou adiamento, pode ser um fator que gera a fobia financeira pelo fato de as pessoas se sentirem culpadas por adiarem suas decisões financeiras. O estudo de Burchell mostra que muitos entrevistados que têm fobia financeira disseram que costumavam evitar tarefas que envolviam seu dinheiro, então sentiam-se culpados e ansiosos. Mas como não tomavam atitudes, a situação virou um círculo vicioso e culminou com a fobia.

A falta de confiança, por sua vez, está ligada à educação. “Alguns entrevistados expressaram falta de confiança em lidar com informações recebidas de prestadores de serviços financeiros,” diz o estudo. Outros ficavam inseguros por não entender dados, números e gráficos. Mas há também casos de pessoas bem sucedidas, mas que não se sentiam confiantes e acabaram desenvolvendo a fobia.

Já a frustração estava presente em pessoas que sofrem de fobia financeira e que tinham o controle de sua situação financeira, mas tiveram um evento inesperado e suas vidas mudaram para pior. Segundo ele, suas pesquisas encontraram indivíduos que depois de terem sido pobres, conseguiram organizar suas vidas financeiras e poupar. No entanto, um acontecimento externo fez com que perdessem parte do que juntaram, o que acabou acarretando um certo desespero e a fobia financeira.

Em momentos de crise, como o atual, as pessoas tendem a ficar ainda mais sensíveis, acrescenta Mosca, do Santander. “Quando o noticiário é muito negativo, essa aversão pelo risco e por assuntos ligados ao dinheiro aumenta.” Burchell acrescenta que quem tem fobia financeira pode ficar bem quando a situação econômica em seu redor vai bem, mas pode ter crises de medo se perder o emprego.

Dinheiro é 3º maior medo do mundo

As pesquisas da Universidade de Cambridge mostram que os medos relacionados com o dinheiro podem ser comparáveis ao medo da morte. Os pesquisadores identificaram que o maior medo das pessoas é o de falar em público, que foi manifestado por 92% dos entrevistados. Em seguida, vem o receio de morrer, com 69%. Em terceiro lugar está o medo de não conseguir se sustentar no futuro, que foi citado por 65% das pessoas.

Mas Mosca diz que as autoridades brasileiras já estão atentas à gravidade da fobia financeira. “Trata-se de uma questão preocupante, mas que já está começando a ser discutida no setor financeiro. A educação financeira pode ajudar, e o governo já vem trabalhando para levar o tema para o currículo das escolas,” afirma.

Enfrentar o medo

Não abrir a fatura dos cartões de crédito é um sinal de fobia financeira

Mas é preciso também um esforço pessoal de quem tem fobia financeira, segundo Mosca. A sugestão dele é que o indivíduo tente falar bastante sobre o assunto. “É muito recomendado que sejam feitas conversas em família, ou com especialistas. Ou então a pessoa pode buscar cursos de educação financeira gratuitos, para começar a ter um domínio sobre suas finanças,” afirma.

Burchell afirma que alguns resultados positivos podem ser observados em pessoas que fizeram terapia comportamental cognitiva (cognitive behavioural therapy, CBT), uma forma de tratamento feita por especialistas de psicologia ou psicologia financeira que busca trabalhar a forma como as pessoas veem a realidade. “Na verdade, a fobia vem da forma como as pessoas percebem a realidade, então a CBT busca estudar isso e reverter a percepção,” diz Mosca.
Fonte: IG - 05/12/2011

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