segunda-feira, 2 de janeiro de 2012


Contas em dia exigem organização

por Tisa Moraes

Consumidor tem que fazer malabarismos para honrar os compromissos financeiros Assim que um novo ano se inicia, um velho problema que compromete as finanças das famílias volta à tona. Depois de gastar todo o dinheiro do 13.º salário com festas e presentes, muitas pessoas irão passar os primeiros meses de 2012 fazendo malabarismos para honrar os compromissos típicos desta época do ano, tais como Imposto Sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA), Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU), Imposto de Renda (IR), matrícula do colégio particular dos filhos e material escolar.

Segundo economistas consultados pelo Jornal da Cidade, não há fórmulas mágicas para fugir do aperto: para não afundar-se em dívidas, é preciso frear o consumo e cortar gastos supérfluos. “As pessoas precisam aprender a ter disciplina financeira e viver de acordo com a renda disponível. Os gastos de fim e início de ano são previsíveis e precisam ser planejados para que a família não atravesse o ano todo em dificuldades”, pondera o economista Mauro Gallo.
O ideal, conforme explicam os especialistas, seria que todos tivessem reservado dinheiro para saldar as dívidas já em janeiro. “Pagando as contas à vista, as margens de negociação aumentam, o que dá maiores condições para obter descontos”, explica o economista Carlos Roberto Sette. Contribuintes que quitam o IPVA antecipadamente, por exemplo, obtêm uma redução de 3% no valor total do tributo.

Para se ter uma ideia de quanto IPVA, IPTU, IR, taxa de matrícula e material escolar comprometem a renda das pessoas nesta época do ano, Sette realizou, a pedido do JC, uma projeção baseada no orçamento de uma família bauruense composta por quatro indivíduos - mãe, pai e dois filhos que estudam em colégio particular.

A renda domiciliar considerada é de aproximadamente R$ 5 mil ao mês. Caso quisesse pagar à vista o IPVA de seus dois automóveis populares, o IPTU da casa própria localizada em um bairro de classe média e as taxas de matrícula do colégio dos filhos, o casal seria obrigado a gastar R$ 3,5 mil. Da renda inicial, sobraria apenas R$ 1,5 mil para prover alimentação, energia elétrica, água, telefone e cuidados com a saúde.

Como seria impossível comprometer o orçamento nesta proporção sem ter guardado o 13º ou uma reserva em aplicação bancária, a melhor opção é fazer o pagamento parcelado dos tributos. Neste caso, por exemplo, o valor do IPVA poderia ser dividido em até três parcelas, sem desconto.

Adiamentos

Já o seguro de Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de Via Terrestre (Dpvat) não precisa ser, necessariamente, quitado junto com o IPVA. Uma alternativa é debitá-lo na data do licenciamento do carro que, dependendo do final da placa, pode não coincidir com os primeiros meses do ano. Já o IPTU, neste ano, por sorte só começará a ser cobrado em abril e poderá ser parcelado em até nove vezes, o que dá uma folga para quem estiver com o orçamento apertado.

Emprestar dinheiro de bancos ou financeiras para quitar os débitos não é algo vantajoso, conforme explica Sette. “Não adianta fazer empréstimo se os descontos oferecidos para quem pagar os impostos à vista forem menores do que os juros cobrados pelo banco”, aponta.

Só vale a pena lançar mão de linhas de financiamento, segundo ele, se for para cobrir as dívidas com cheque especial e cartão de crédito. Neste caso, o mais indicado são os empréstimos consignados, com desconto em folha de pagamento, que cobram taxas de juros mensais de pouco mais de 2%.  “Para quem não tiver emprego fixo, há ainda a opção de crédito pessoal (Crédito Direto ao Consumidor - CDC), cuja taxa é de 4% ao mês, bem menor que o juro do cartão, que é de 12% ao mês, e do cheque especial, de 8% ao mês”, esclarece.

Matrícula escolares

Consumidores devem estar atentos, também, aos valores de mensalidades cobrados pelos colégios particulares, conforme alertam os economistas. Sempre que houver algum reajuste, os pais devem exigir que a escola apresente uma planilha anual de custos que justifique os aumentos.

Mas, mesmo diante de qualquer argumentação, a elevação de custos aceitável não deve ser muito superior ao índice de inflação, que em 2011 deve ficar em torno de 6,5%.

“Considere normal um aumento na mensalidade em torno de 10%. Mais do que isso, só se a escola passar a oferecer novos serviços”, pondera o economista Mauro Gallo.

Ele acrescenta ainda que os pais que possuem mais de um filho matriculado no mesmo colégio também podem conseguir bons descontos. “Quase todas as instituições fazem esta oferta. Caso contrário, os pais devem barganhar, porque é interesse do colégio manter alunos para continuar funcionando”, ensina.

Outra opção para quem possui uma boa reserva no banco é quitar todas as mensalidades do ano de uma só vez, em janeiro. “O valor pode ser alto, mas os descontos também costumam ser bons, com taxas geralmente maiores do que o rendimento da aplicação financeira”, reforça.

Uma promessa para 2012: planejamento financeiro

Na lista de promessas que cada um fizer para este novo ano, os economistas recomendam adicionar um item importante: o planejamento financeiro. “A única solução é organização. Quem tem poupança, por exemplo, pode usar esta reserva para pagar à vista e conseguir um bom desconto, geralmente de uma porcentagem maior que o rendimento mensal da aplicação financeira. É uma forma de fazer o dinheiro trabalhar a seu favor”, avalia o economista Mauro Gallo.

É com base neste argumento que o técnico em preparação de implementos Sílvio César de Oliveira, 35 anos, consegue planejar seus gastos todo início de ano. Mensalmente, ele reserva cerca de R$ 1 mil que são depositados na poupança para garantir o pagamento à vista dos custos extras com IPVA, IPTU e Imposto de Renda.

Como medida de economia, Sílvio e a esposa, Edilaine de Oliveira, 29 anos, optaram por fazer as compras de Natal apenas no dia 29, para aproveitar as promoções de liquidação. “Adotando medidas simples e cortando tudo o que é supérfluo, consigo honrar tranquilamente com todos os meus compromissos, sem ter de pagar juros, inclusive a mensalidade da faculdade que estou fazendo”, revela ele.

De acordo com o economista Carlos Sette, a postura de Oliveira ainda é exceção à regra, principalmente entre famílias da chamada “nova classe média”. Embora tentam se tornado mais poderosas economicamente, elas ainda não possuem a maturidade financeira necessária para o consumo consciente, segundo análise do economista.

“Muitos adotam um padrão de vida que não é compatível com a renda que recebem. Estimuladas pelo apelo do consumo, as pessoas acabam comprando coisas que nem mesmo terá utilidade para elas. Adquirem produtos supérfluos e, depois, não são capazes de pagá-los”, avalia.

A mudança de atitude, ele aponta, parte da iniciativa de ajustar-se à realidade do próprio orçamento como forma de deter o avanço das dívidas. “É possível eliminar gastos supérfluos sem sacrificar a qualidade de vida. Caso contrário, a pessoa irá se endividar de tal forma que só conseguirá ajustar suas contas no final do ano, quando recebe o 13º. Este ‘extra’ não deveria ser utilizado como um remediador de uma condição crítica, mas como ferramenta para dar uma folga ao orçamento”, pondera.
Fonte: http://www.jcnet.com.br - 02/01/2012

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