quarta-feira, 13 de julho de 2011

Crédito fácil do cheque especial engana

por Pedro Souza

O Sistema Financeiro Nacional é um dos únicos no mundo que oferece o limite do cheque especial. Mas a facilidade para utilizar esse recurso é perigosa e merece cautela.

Com juros elevados, beirando a margem dos 10% ao mês, a modalidade é interpretada por alguns usuários como extensão do salário. A falta de boleto de cobrança, como ocorre com o cartão de crédito, diminui a dor no bolso do consumidor e abre espaço ao erro, já que a procura por opções de crédito mais baratas do que o cheque especial deveria ser a primeira opção dos clientes endividados.

As pessoas que entram na zona de risco ainda são minoria. Em média, o cheque especial representa 5% do saldo de operações de crédito com recursos livres (sem interferência do governo nos juros) aos consumidores, aponta o Banco Central. Dos R$ 460 bilhões em empréstimos na mão dos clientes, em maio, o cheque especial era responsável por R$ 20 bilhões. Bem menos que o cartão de crédito, com R$ 33 bilhões, que é mais caro, cerca de 10,69% ao mês.

Se comparado ao empréstimo pessoal (R$ 223 bilhões) e ao crédito direto ao consumidor (R$ 164 bilhões), a representatividade é ainda menor. Essas modalidades têm juros bem inferiores em relação ao cheque especial e ao cartão de crédito.

CARACTERÍSTICA - Para o setor bancário, a modalidade é interpretada como alternativa de crédito ao consumidor. E apenas produto complementar da carteira das instituições financeiras, afirmou o diretor-adjunto de produtos e financiamentos da Federação Brasileira de Bancos, Ademiro Vian. "Não chega a ser interessante para o setor até porque os níveis de inadimplência nessa modalidade são mais elevados", disse. Segundo o BC, em maio o atraso no pagamento superior a 90 dias atingia 9%, bem maior do que a do cartão de crédito (4,6%), na qual os consumidores recebem fatura de suas dívidas.

Vian orientou que o cliente preste atenção na utilização do cheque especial. "O ideal é cobrir o saldo devedor o mais rápido possível justamente por causa do custo (juros)."

O executivo acrescentou que em casos extremos é interessante a busca pela renegociação. "Se não for possível (pagar a dívida do cheque especial), deve procurar o banco e transformar o saldo devedor em empréstimo para pagamento parcelado."

Vian argumentou que os juros da modalidade são altos porque as instituições financeiras não pedem garantias de que seus clientes pagarão. "E essa imprevisibilidade não permite os bancos se programarem para fazer pagamentos", explicou.

LUCRO - O professor de Cálculo e Finanças do Grupo Ibmec e da Universidade Federal de Minas Gerais Leopoldo Garjeda Fernandes rebate. "Mesmo assim o cheque especial é lucrativo para os bancos." Em maio, o BC registrou a concessão de R$ 26 bilhões por meio do cheque especial com recursos livres. O prazo médio que os usuários levaram para liquidar essas dívidas foi de 22 dias, ou seja, pagaram juros aos bancos, o que gera lucro às empresas.
Fonte: Do Diário do Grande ABC - 13/07/2011

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