sexta-feira, 28 de outubro de 2011


Quadrilha de agiotas tinha até uma 'sala do pânico'

Polícia prende 15 por agiotagem, que além dos juros exorbitantes, faziam ameaças 

Rio - Um esquema de agiotagem com com juros exorbitantes e ameaças. A quadrilha desarticulada nesta quinta-feira pela Polícia Civil tinha até escritório exclusivo para ameaçar vítimas. Era uma espécie de ‘sala do pânico’, com paredes e teto revestidos de material especial para abafar o som dos gritos. Quinze pessoas foram presas, sendo dois policiais militares. Seis ainda estão foragidas. O grupo agia em oito municípios — entre capital, Baixada e região metropolitana — com mais de mil clientes e cobrando taxas de até 48% nos empréstimos.

Foto: Fabio Gonçalves / Agência O DiaAcusados presos escondem os rostos ao serem apresentados na Academia de Polícia Civil. Grupo agia em oito municípios em todo o estado | Foto: Fabio Gonçalves / Agência O Dia

Além do escritório remeter ao filme ‘Quarto do Pânico’ — no qual família ficou refém de bandidos —, o cinema serviu também de inspiração para o nome da operação, batizada de Shylock por causa do nome do personagem de um agiota no filme ‘O Mercador de Veneza’. Ao todo, foram expedidos 18 mandados de prisão e 12 foram cumpridos. Três pessoas foram presas em flagrante em casas e escritórios do esquema. O lucro mensal do grupo, que agia há pelo menos cinco anos, oscilava entre R$ 800 mil e R$ 1 milhão por mês: cerca de R$ 12 milhões por ano.

A ‘Sala do Medo’ ficava no Centro de Niterói. O imóvel não tinha janela nem muitos móveis, apenas um telefone, onde eram feitas as ameaças, muitas vezes, de morte. “Parecia um estúdio musical. A intenção era de que os vizinhos não escutassem os gritos”, revelou o delegado Marcos André Buss, adjunto da 19ª DP (Tijuca). Não foi detectado caso de homicídio envolvendo o grupo, mas as investigações vão continuar.

Cobradores dos agiotas iam a casas de clientes e levaram eletrodomésticos e bens pessoais como parte da dívida. Um deles fez até música com ameaças.

Mulher pegou R$ 290 e teve que pagar total de R$ 2.304

Foram mais de 8 meses de investigações, iniciadas na 19ª DP (Tijuca), bairro onde foi detectada a ação mais intensa do bando. As vítimas chegavam até os agiotas por panfletos entregues nas ruas. Após análise de crédito, elas recebiam o empréstimo e começava a pagar cada mês com juros mais altos.

“Se a vítima tentava quitar a dívida, os agiotas aumentavam os juros”, revelou o delegado titular da 19ªDP, Nilton Fabiano Lessa. Em um dos casos, uma senhora que pediu R$ 290 de empréstimo teve que pagar durante dois anos R$ 96 por mês, totalizando R$ 2.304.

“Ficamos impressionados com a alta movimentação financeira”, revelou a chefe da Polícia Civil, Martha Rocha. A quadrilha estava expandindo seus escritórios para Natal, no Rio Grande do Norte, e já atuava também em Juiz de Fora, em Minas Gerais.

Os presos irão responder por formação de quadrilha, lavagem de dinheiro, crime contra a economia popular e extorsão. Policiais de 31 delegacias, entre especializadas e distritais, e duas equipes da Corregedoria Geral Unificada (CGU) participam da ação.

R$ 3 milhões embaixo da cama

O suspeito de chefiar o bando, Clenilson Gomes, foi preso em um de seus apartamentos, na Barra, com cerca de R$ 3 milhões embaixo da cama. Ele usaria imóveis, estacionamentos e até uma escola para lavar dinheiro.

Foto: Osvaldo Praddo / Agência O Dia

Na casa confortável onde casal foi detido foram apreendidos dois carros, dois cofres, joias e documentos | Foto: Osvaldo Praddo / Agência O Dia

Na Rua Baltazar Pessoas, São Gonçalo, Saulo José dos Santos e Glícia de Almeida foram presos em casa duplex com piscina e churrasqueira. Picape blindada e Corolla foram encontrados no local. Dois carros, dois cofres, joias e documentos foram apreendidos.

Trechos de ameaças por telefone

Agiota: “Pegou tem que pagar senão o bonde brota. Seu tempo passou, ‘nós vai’ pedalar sua porta. Nunca confunda idiota com agiota.”

Agiota: “Fica de gracinha, pego seu filho e arrebento! Até sexta você arruma quanto?”

Devedor: “Como é que a gente pode fazer acordo pra pagar o dinheiro?”

Reportagem de Fernanda Alves e Marcello Victor
Fonte: O Dia Online - 28/10/2011

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